A primeira
função da exegese bíblica é entender a tessitura do texto, compreender a trama
que dá azo a mensagem do hagiógrafo. Para o cabal entendimento dessa assertiva,
julgo necessário deslindar o significado de tais proposições tendo como base os
textos de Mateus 13.36, Atos 8.30-38 e Hebreus 5.11:
1. A exegese envolve uma leitura técnica
das Escrituras, nem sempre acessível a um grande número de leitores.
2. Há
um hiato entre leitura e compreensão. É possível ler e não entender.
3. A leitura de uma perícope se realiza
através de diversos níveis: edificação, liturgia, catequese, dogmática,
exegese.
4. O
tipo de leitura orienta a práxis interpretativa.
5. Os
textos da Escritura apresentam complexidades léxicas, literárias, históricas,
culturais, proféticas, litúrgicas e teológicas nem sempre acessíveis ao leitor fugaz.
6. Não
é apenas necessário, mas também plausível que se explique a perícope.
7. A explicação do texto deve conduzir a
edificação, exortação, consolação e a Cristo.
8.
Certas explicações exigem maturidade e disposição de vontade de quem ouve e de
quem a explica.
Metodologia
da Exegese Bíblica
O emprego
do termo exegese não está limitado ao sentido etimológico anteriormente
expendido, mas estende-se de seu significado primário à exegese como
metodologia aplicada às Sagradas Escrituras. Metodologia da Exegese Bíblica,
portanto, é a organização e análise sistemática dos processos que devem
orientar a investigação científica da Bíblia. Consiste na aplicação dos
princípios racionais de investigação usados em documentos plurisseculares com o
propósito de apreender o estilo literário de cada autor, a estrutura da obra,
as formas literárias do conjunto, entre outros. É o conjunto de procedimentos
científicos empregados com o propósito de explicar o texto em sua diversidade.
O uso de
uma metodologia na exegese do texto bíblico não é fortuito, mas cumpre duas
funções específicas: viabilizar a obtenção do conhecimento
científico da Bíblia e possibilitar a
sistematização lógica desse saber. O método em exegese, por conseguinte, requer
o emprego de uma ordem com a qual diferentes processos serão empregados para
alcançar determinados resultados. Entende-se por processo, a forma como
determinada técnica é aplicada, isto é, o modo específico de executar o método.
Tipos
de leitores
O leitor
crítico da Sagrada Escritura distingue-se do fugaz, que se apressa em sua
leitura, e do fugidio, que teme o desafio hercúleo de compreendê-la em seus
matizes. Esse leitor operante além de saber o que pesquisar, e como investigar,
sabe muito bem como ordenar os conhecimentos obtidos.
O seu
conhecimento não está fundamentado única e precisamente nos sentidos, como o
leitor fugaz; na experiência, como o leitor fugidio; ou em sua espiritualidade,
como insistem os místicos e pneumatikos, mas nos princípios técnicos
subsidiados pela razão iluminada que, à maneira agostiniana, recebe a
comunicação da luz divina e, através dela, a inteligência é capaz de atingir o
verdadeiro conhecimento. A cognoscibilidade disposta e aberta à iluminação
divina.
De modo
algum essas proposições indeferem a espiritualidade do exegeta, no entanto, não
reconhece que esta seja uma autoridade suficiente em si mesma para interpretar
o texto bíblico em seus matizes filológicos e histórico-culturais.
Espiritualidade e exegese são recíprocas, e ninguém convicto de sua sanidade
mental dissociaria uma da outra. A respeito dessa temática falaremos mais
adiante, portanto, retornemos à assertiva principal.
A exegese
como metodologia bíblica não se circunscreve a extrair o sentido dos textos
através de normas e princípios hermenêuticos, mas como ciência bíblica, além de
ensinar os métodos de interpretação de textos e o modo de aplicá-los
corretamente, formula, estuda e critica os métodos de interpretação aplicados
ao texto bíblico. Temos então um caráter tríplice da ciência exegética:
normatização, pesquisa e crítica.
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