O
Evangelho de Jesus Segundo João
A
religiosidade na comunidade joanina
Este
evangelho tem uma característica muito peculiar que é mostrar uma classe
religiosa dominante – os judeus – aqui descrito de uma forma geral para apontar
aqueles que com o pretexto de guardar a Lei de Moisés escravizavam o povo. Os
religiosos do templo e depois dos anos 70 com a destruição do templo, os da
sinagoga que assume a parte religiosa do povo, dominam totalmente a sociedade,
aqui descrita com joanina.
A
política social da sinagoga tem um controle total sobre aquela sociedade. Fazer
parte da sinagoga era sinônimo de segurança e prosperidade uma vez que tais
judeus controlavam tudo, desde a vida religiosa, como social, trabalhista etc.
portanto, ser expulso da sinagoga era algo impensável para aqueles simples
judeus.
João
mostra exatamente o conflito que emerge com a ascensão dos seguidores de Jesus,
pois estes começam a sofrer perseguição por causa de sua fé. O aumento dos
seguidores de Jesus representava exatamente uma ameaça para a religião dos
judeus. Porque os seguidores de Jesus já não aceitavam os ensinamentos impostos
pelos judeus, tido como um fardo muito pesado.
Essa
sociedade também é marcada por muita marginalização social. Os judeus
religiosos seguiam suas tradições de forma literal, deixando assim de fora da
comunidade aqueles que eram defeituosos. Uma vez que eles não podiam participar
da sinagoga por conta dos seus pecados, pois se entendia que aqueles que tinham
defeito estavam debaixo do juízo de Deus. Não restava outra coisa senão
mendigar.
Na
contramão dos ensinos farisaicos, Jesus tem seu ambiente de ensino exatamente
junto a esses marginais. João mostra como Jesus andou entre eles, curou,
libertou; não apenas isso, mas também ensinou esse povo, levando até eles a
mensagem da parte de Deus – de que o Reino de Deus havia chegado. Jesus não
discrimina, ao contrário, dá oportunidade aos pecadores de se reconciliarem com
Deus.
É
nesse contexto que João registra os sinais e os discursos de Jesus. A sua sociedade
é uma sociedade com muitas feridas e sofrimentos e eles haviam perdido a sua
identidade, assim João tem como objetivo, através dessas mensagens, resgatar o
que se havia perdido. Com a invasão dos romanos nos anos 70 aconteceu uma
grande cisma naquela sociedade, mesmo assim é uma comunidade pluralista,
mantendo diversos grupos em sua composição: cristãos-judeus-palestinenses,
samaritanos, cristãos-judeus-helenizados e gentios convertidos. Todos em torno
dos ensinos de Jesus.
A
sinagoga após a destruição do templo centraliza nela a vida religiosa daquela
comunidade e diz que quem seguir a Jesus será expulso. É neste momento que
emerge a situação: ou você está com Jesus ou você está com Lei, não há meio
termo. Deve-se prestar atenção neste dualismo que é marcante nos escritos de
João. Ou você está na luz ou você está nas trevas. Isso se nota em todos os
sinais registrados por João, mas principalmente no cap. 9.
Para
clarear esse entendimento conta o prof. Dr. Paulo Roberto Garcia a respeito das Bodas
de Caná que se torna um elemento de discernimento entre estar com Lei ou estar
com a graça. Um legalista chega na festa em que Jesus está e pergunta a
respeito da festa e a resposta é que estava um tanto ruim, sem vinho; mas agora
está super animada, há um vinho de muito boa qualidade. Então o legalista manda
o serviçal lavar as suas mãos, uma vez que o legalista não participaria da
festa sem lavar as suas mãos, precisa cumprir com a lei. Porém, há um problema
não há água para tal, foi tudo transformado em vinho por Jesus. Aí a presença
do dualismo: ou o legalista abandona a sua lei, fica sem lavar as mãos e
participa da festa de Jesus ou então o contrário, permanece com sua lei e se
vai embora. É a lei ou a graça, a luz ou trevas, dia ou noite. O evangelho de
João precisa ser lido e estudado desta ótica porque tudo nele gira em torno
deste dualismo.
O
Sábado
A
questão do sábado no evangelho de João é uma questão a ser analisada separadamente.
Isso porque a mensagem de João não enfatiza que Jesus quebra a Lei, afinal não
poderia estar em contradição com outros escritos como por exemplo que Jesus
veio para cumprir a Lei e não abrogá-la. Mas qual a questão então?
Ela
está no entendimento a respeito do sábado, os fariseus a partir da lei criaram
vários outros preceitos e mandamentos que deveriam ser observados no dia de
sábado e o entendimento literal de tudo se tornou um fardo pesado para a
sociedade. Jesus veio para mostrar o real sentido do sábado. O dia em si não
pode ser de maior valor que o próprio homem, afinal o sábado foi criado por
causa do homem e não o contrário.
Em
todas as vezes que João registra um sinal operado por Jesus em um sábado,
mostra que na realidade a transgressão não está na lei, mas sim nas regras
judaicas impostas neste santo dia. E em todas as ocasiões Jesus coloca o homem
acima dos preceitos humanos. O homem é para ser livre e não ser novamente
escravizado ou permanecer escravizado.
No
caso do paralítico do tanque de Betesda, segundo os “judeus”, o homem deveria
permanecer escravizado pela sua doença no sábado porque não poderia carregar o
seu leito pela cidade. No cap. 9 o cego deveria ficar na escuridão pois Jesus
não podia ter feito lodo, ou seja, mudar o estado da matéria no dia de sábado,
e também não podia curar. Em todos esses casos Jesus preferiu dar saúde e
oportunidade de vida para esses homens. No que dependesse dos religiosos da
época eles permaneceriam escravizados.
O
sétimo dia da semana é realmente para descanso e observar o que se fez durante
a semana que passou e se regozijar pela obra feita, assim como Deus fez. Olhar
para trás e dizer que tudo foi muito bom e assim agradecer a Deus por tudo e
recarregar as baterias físicas para a nova semana que se iniciará. Não é um dia
para trabalho, mas para adoração. Não são todas as pessoas que tem o seu sétimo
dia coincidindo com o sábado que se conhece.
Porém, o sábado vai muito além do seu sentido físico. É principalmente espiritual. Ele aponta diretamente para o próprio Senhor Jesus, Ele é o nosso sábado. Sim, porque é nEle que está o nosso descanso, como em Mt.11.28-30. O escritor aos Hebreus cap. 3.11 comparou a entrada na terra prometida como descanso (sábado), no v. 18 chama repouso, no cap. 4 introduz que este repouso não é o verdadeiro pois se Josué houvesse dado repouso não falaria de outro (v.8). Portanto, o verdadeiro repouso é o próprio Cristo. Por isso não se deve ficar presos em dias, festas, etc., mas sim olhar para Jesus que é o verdadeiro sábado de Deus.
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