Michael Lawrence 14
de Outubro de 2015 - Igreja e Ministério
Você já se sentou em uma sala de aula pensando qual
era o objetivo? Eu distintamente me lembro de sentir isso enquanto sofria
durante as aulas de cálculo na faculdade. O curso era ministrado como se a
aplicação dos princípios fossem autoevidentes. E talvez para os amantes da
matemática na classe fossem. Mas para esse estudante de literatura i nglesa,
era um exercício constante de reflexão puramente abstrata e uma derrota. Sem
entender o verdadeiro mundo de aplicação, eu tinha dificuldade em entender
porque precisava saber o valor de alguma coisa enquanto esta se aproximava do
infinito, sem nunca realmente alcançar .
E se você foi um gênio em matemática, simplesmente
se lembre de como você se sentia quando pediam para discutir o significado dos
sonetos de Shakespeare.
Explicação é diferente de Aplicação
Eu não estou tentando desenterrar memórias antigas.
Mas me pergunto se alguns de nós pregadores não somos culpados de colocar os
membros de nossa igreja numa posição equivalente ao de um estudante de primeiro
ano de cálculo ou literatura a cada domingo? Como muitos professores em muitos
campos, estamos apaixonados sobre o que ensinaremos e extremamente bem
preparados. Nós podemos responder perguntas sobre tempos verbais de Grego e
Hebraico e o pano de fundo histórico e cultural do Oriente Médio. Podemos
destacar um quiasmo antes que nosso povo possa pensar sobre como se pronuncia a
palavra. E estamos preparados para explicar porque os tradutores entenderam
errado e, ao invés, deveriam seguir a nossa interpretação.
E mesmo assim com toda essa riqueza de conhecimento
e compreensão, entregue com paixão e de grande importância, nossa congregação fica
com pouco entendimento do que deve fazer com isso. Eles sabem que é importante
– porque é a Palavra de Deus. Mais do que isso, eles sabem que é a Palavra de
Deus dada para eles. Dito isso, nós essencialmente lhes dizemos : “Agora está
com você. Você agora terá que descobrir como aplicar por conta própria.” Ou
pior, nós deixamos as pessoas um pouco constrangidas e com um sentimento de
fracasso espiritual por não saberem como aplicar o que ouviram, já que parece
tão óbvio para nós.
Não é suficiente para nós pregadores simplesmente
explicar o texto à nossa congregação. Se seremos bons pastores, temos que
aplicar o texto a suas vidas nos dias atuais.
Então por que não fazemos? Eu consigo pensar em
algumas razões.
Primeiro, aplicação é trabalho duro. Comparado a
pensar a complexidade do coração humano e sua condição, analisar gramática e
contexto é brincadeira de criança.
Segundo, aplicação é subjetiva. Eu sei quando
defini uma sentença corretamente, ou analisei um verbo. Mas como eu posso saber
se acertei na aplicação?
Terceiro, aplicação é complexa. O texto tem um
ponto principal. Porém, existem múltiplas aplicações, talvez tanto quanto
existem ouvintes. Escolher entre as muitas opções é desafiador.
Quarto, aplicação é pessoal. Assim que começo a
pensar sobre como o texto se aplica a minha congregação, não consigo deixar de
ser confrontado com a aplicação dele para mim. E algumas vezes, eu preferia só
explicá -lo a ter que lidar com ele.
Todas estas razões têm a ver com a nossa própria
carne e nosso desejo ou de evitar o trabalho duro no qual não somos bons ou
evitar completamente convicções pessoais. E nossa resposta a essas desculpas
deve simplesmente ser arrepender-se.
Aplicação é diferente de Convicção
Mas existe uma quinta razão, mais teológica, para
alguns de nós negligenciarmos a aplicação em nossos sermões. Estamos
convencidos que a aplicação é o trabalho de outro e está além daquilo que
recebemos para fazer. “Não é o Espírito Santo quem deve aplicar o texto ao
coração de uma pessoa? Se eu aplicá -lo e não for aplicável, não ficarão com a
impressão que estão isentos de responsabilidade? Mas se eu expor a verdade e
sair da frente, então o Espírito Santo tem um caminho livre para fazer sua
obra. E ele fará melhor do que eu farei de qualquer forma.”
Eu já ouvi mais de um pregador respeitado de nossos
dias defender tal ponto. Mas com todo respeito, penso que esta objeção é
não-bíblica e teologicamente confusa. O erro é confundir convicção com
aplicação. Convicção de pecado, justiça e juízo é o trabalho do Espírito Santo
(João 16.8). Ningué m a não ser o Espírito Santo pode trazer verdadeira
convicção e quando tentamos fazer o trabalho dele inevitavelmente caímos em
legalismo. Por quê? Porque convicção é um assunto do coração, no qual uma
pessoa não é só convencida de que algo é verdadeiro, mas também de que deve
prestar contas a Deus sobre essa verdade e deve agir a partir dela.
Aplicação é diferente de convicção. Apesar de seu
alvo ser o coração, está direcionada para a compreensão. Se a exegese requer de
nós a compreensão do contexto original do texto, a aplicação se trata somente
de explorar o contexto contemporâneo onde o texto é ouvido. Trata-se de
identificar categorias de vida, ética e entendimento nas quais tal palavra de
Cristo em particular precisa habitar ricamente (Colossenses 3.16). Todos temos
a tendência de ouvir por meio de nossos próprios filtros e de nossas próprias
experiências. Então, quando um pastor se esforça para aplicar a Palavra, existe
uma oportunidade para que consideremos a importância de certa passagem de
formas que nunca tenhamos feito antes, ou não que normalmente não
consideraríamos .
Então, por exemplo, sempre que ouço João 3.16, eu
imediatamente penso sobre meu chamado para o evangelismo. Esta é minha
aplicação natural, quase uma reflexão pessoal dess e verso. Mas uma aplicação
homilética mais cuidadosa pode me causar a pensar mais profundamente sobre a
natureza do amor de Deus por mim ou o que significa ter vida eterna em Cristo.
Ao expandir minha compreensão da possível aplicação deste único verso, João
3.16 começa a habitar muito mais ricamente em minha vida. Mais do que invadir a
esfera de trabalho do Espírito Santo, uma boa aplicação multiplica as
oportunidades de convicção.
Evitar a aplicação não é bíblico
Evitar a aplicação é também simplesmente
antibíblico. Aplicação é exatamente o que vemos os pregadores e mestres da
Palavra de Deus fazendo nas páginas das Escrituras. Desde Deuteronômio 6.7 –
onde é dito aos pais, “inculcarás [estes mandamentos] a seus filhos” – até
Neemias 8.8 – onde Esdras e os Levitas não somente leram o Livro da Lei para o
povo, mas se esforçaram “dando explicações, de maneira que entendessem o que se
lia” – o Antigo Testamento mostra preocupação que o povo de Deus não só conheça
sua Palavra, mas entenda seu significado para suas vidas.
E essa preocupação continuou nos ensinamentos de
Jesus e dos apóstolos. Em Lucas 8.21, Jesus confirma sua relação com aqueles
que “ouvem a palavra de Deus e a praticam” e seus ensinamentos estão cheio de
exemplos de como seria colocar esta palavra em prática, começando com o Sermão
do Monte. As cartas dos apóstolos estão cheias de aplicações práticas, e eles
passaram tal preocupação aos presbíteros, os quais deveriam ensinar piedade na
prática (1 Timóteo 4) e confiar este mesmo ensinamento “a homens fiéis e também
idôneos para instruir a outros” (1 Timóteo 2.2).
Em nenhum lugar vemos isto mais claramente do que
em Efésios 4.12-13. O propósito dos pastores e mestres como dons de Cristo para
a igreja é o “aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para
a edificação do corpo de Cristo”. Como podemos preparar membros da igreja para
seus diversos ministérios dentro ou fora da igreja se não falamos de forma
específica e prática para tal finalidade? Paulo parece presumir que ao invés de
evitar a aplicação, é justamente nessa direção que deveríamos constantemente
apontar.
Alguns exemplos
Então, com o que isso se pareceria na prática?
Deixe- me oferecer dois exemplos. Primeiro, considere 2 Samuel 11, a narrativa
do adultério de Davi com Bate-Seba e o abuso de poder para conspirar um
homicídio e encobrir seu pecado. Obviamente, as aplicações sobre pureza sexual
e homicídio estão bem na superfície do texto. Mas o que dizer às pessoas da sua
congregação para as quais adultério e homicídio não são tentações no momento?
Eu tenho certeza que existem alguns. Não há nada mais para dizer para eles? É
claro que existe.
Olhando para o pecado específico de Davi, você pode
ajudá-los a ver o padrão do pecado de forma geral, sua natureza enganadora,
oportunista e progressiva. Então poderá ajudá -los a pensar sobre os “pecados
de oportunidade” que eles enfrentam, não como o rei de Israel, mas como mães e
avós, estudantes e os que trabalham em escritórios, gerentes e aposentados. Em
sua aplicação, você não está tentando ser exaustivo. Você está tentando
ajudá-los a compreender o sentido da passagem e fazer as engrenagens girarem em
suas próprias mentes sobre suas vidas.
Ou considere Efésios 6.1-4. Esta é uma passagem
sobre as obrigações mútuas de pais e filhos. E existem muitas aplicações bem
claras. Mas o que dizer à s pessoas na sua igreja que não tem filhos, ou não
tem mais filhos em casa? Eles devem somente ouvir e esperar aprender alguma
coisa para que possam encorajar os pais a sua volta? Isto é um começo. Mas esta
é a Palavra de Deus para eles também. O princípio de autoridade corretamente
exercido é aplicável a todos nós. Professores e alunos, empregadores e
empregados, presbíteros e congregação todos t êm algo a aprender sobre o que
significa prosperar através e debaixo de autoridade piedosa. Como o Catecismo
Maior de Westminster destaca que “no quinto mandamento, abrangem não somente os
próprios pais, mas também todos os superiores em idade e dons, especialmente
todos aqueles que, pela ordenação de Deus, estão colocados sobre nós em
autoridade” (Resposta 124). Todos estamos debaixo de alguma esfera de
autoridade e muitos de nós exercem autoridade em outra esfera. Uma aplicação
atenciosa deixará isso claro.
O que isto significa para você
O que tudo isto significa, eu acredito, é que um
sermão não aplicado não é um sermão, mas meramente uma palestra bíblica. Nós
não queremos pessoas saindo de nossas pregações imaginando qual era o ponto
central. Ao invés, vamos nos dedicar a aplicação do texto, “para a edificação
do corpo de Cristo... à medida da estatura da plenitude de Cristo”.
http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/850/Sem_aplicacao_Entao_voce_nao_pregou
Nenhum comentário:
Postar um comentário